Março Lilás: Câncer do Colo do Útero

Indice

O câncer de colo no útero, também chamado de cervical, é causado pela infecção persistente por alguns tipos (oncogênicos) do HPV – Papilomavírus Humano. A infecção genital por este vírus é muito frequente e não causa doença na maioria das vezes, entretanto, em alguns casos, podem ocorrer alterações celulares que poderão evoluir para o câncer. Estas alterações das células são descobertas facilmente no exame preventivo (papanicolau) e são curáveis na quase totalidade dos casos. Antes de tornar maligno, o que leva alguns anos, o tumor passa por uma fase de “pré-malignidade”, denominada NIC (Neoplasia Intraepitelial Cervical), que pode ser classificada em graus I – IV, de acordo com a gravidade do caso.

Essa campanha visa levar informação e estimular a população feminina para os cuidados de prevenção contra o câncer de colo uterino, que é o segundo tipo câncer mais comum entre as mulheres e a quarta causa de morte do grupo desse gênero no Brasil, aponta o INCA. Além disso, a campanha alerta para os principais sinais e sintomas que devem direcionar a mulher a buscar ajuda médica, assim como, mostrar a importância do diagnóstico precoce, que com ele é possível atingir a cura do câncer.

Os dois tipo mais frequentes de tumor maligno de colo uterino estão associados à infecção pelo HPV. São eles: os carcinomas epidermoides (80% dos casos) e os adenocarcinomas (20% dos casos).

Em algumas ocasiões, os dois tipos de células cancerígenas podem estar envolvidas em um só caso.

Ao contrário do que se acredita, a endometriose e a genética não possuem relação com o surgimento desse câncer.

Usualmente, ocorre quando há uma mutação genética nas células da região, que começam a se multiplicar de forma descontrolada. Normalmente, essa mutação está relacionada a presença de alguns tipos de vírus HPV (é uma DST, doença sexualmente transmissível, comum que se caracteriza como uma infecção que causa verrugas em diversas partes do corpo, dependendo do tipo de vírus), apesar de existir mais de uma centena de subtipos diferentes desse vírus, somente alguns estão associados ao câncer de colo uterino, são classificados de alto risco os subtipos 16, 18, 45 e 56; de baixo risco, os subtipos 6, 11, 41 e 42; de risco intermediário, os subtipos 31, 33, 35, 51 e 52.

Alguns riscos que favorecem o aparecimento dessa doença:

  • sexo desprotegido com múltiplos parceiros;
  • histórico de DSTs (HPV);
  • tabagismo;
  • idade precoce da primeira relação sexual;
  • multiparidade (várias gravidezes).

Nas fases iniciais, o câncer de colo de útero é assintomático. Quando os sintomas aparecem, os mais importantes são: 1) sangramento vaginal especialmente depois das relações sexuais, no intervalo entre as menstruações ou após a menopausa; 2) corrimento vaginal (leucorreia) de cor escura e com mau cheiro.

Nos estágios mais avançados da doença, outros sinais podem aparecer. Entre eles, vale destacar: 1) massa palpável no colo de útero; 2) hemorragias; 3) obstrução das vias urinárias e intestinos; 4) dores lombares e abdominais; 5) perda de apetite e de peso.

Ao perceber qualquer sintoma a mulher deve procurar seu ginecologista para que se investigue melhor o caso.

A avaliação ginecológica, a colposcopia e o exame citopatológico de Papanicolaou realizados regular e periodicamente são recursos essenciais para o diagnóstico do câncer de colo de útero. Na fase assintomática da enfermidade, o rastreamento realizado por meio do Papanicolaou permite detectar a existência de alterações celulares características da infecção pelo HPV ou a existência de lesões pré-malignas.

O diagnóstico definitivo, porém, depende do resultado da biópsia. Nos casos em que há sinais de malignidade, além de identificar o subtipo do vírus infectante, é preciso definir o tamanho do tumor, se está situado somente no colo uterino ou já invadiu outros órgãos e tecidos (presença de metástases). Alguns exames de imagem (tomografia, ressonância magnética, RX de tórax) representam recursos importantes nesse sentido.

  • Anamnese

Deve ser dirigida principalmente aos fatores de risco e aos sinais e sintomas relacionados ao câncer.

  • Exame físico

Deve incluir palpação do fígado, regiões supraclaviculares e inguinais para excluir metástases quando se estiver diante de doença localmente avançada.

  • Exame especular

Pode mostrar lesão exofítica, endofítica, ulcerativa ou polipóide, porém, se o tumor se origina do epitélio glandular no canal cervical, a ectocérvice pode parecer macroscopicamente normal. O tamanho da cérvice é melhor determinado pelo toque retal, o qual também é necessário para detecção da extensão da doença ao paramétrio.

  • Citologia oncótica

É o principal método de rastreamento do câncer cervical, embora o tecido necrótico, sangramento e células inflamatórias possam prejudicar a visualização de células neoplásicas. A taxa de falso negativo da citologia pode ultrapassar 50%. Assim, um esfregaço negativo em uma paciente sintomática nunca deve ser considerado como resultado definitivo.

  • Colposcopia e biópsia dirigida

São etapas fundamentais na propedêutica do carcinoma invasor inicial do colo uterino, tendo a primeira a finalidade de delimitar a extensão da doença no colo e na vagina e a segunda, a confirmação do diagnóstico.

A biópsia torna-se relevante quando o exame histopatológico confirma lesões francamente invasivas, porém, necessitará complementação toda vez que a profundidade de invasão for menor do que 5 mm e a extensão inferior a 7 mm (microinvasão). Nesses casos, estará indicada a biópsia alargada, a conização ou a exérese da zona de transformação (EZT), na dependência do aspecto macroscópico e/ou colposcópico.

O médico deve preencher o prontuário com a representação gráfica da lesão, tamanho, localização e extensão da mesma, e com indicação dos locais em que foram realizadas as biópsias.

Exames básicos 

  • Hemograma completo;
  • Coagulograma;
  • Glicose;
  • Ureia;
  • Creatinina sérica;
  • Eletrólitos;
  • Urinálise;
  • Raios X de tórax;
  • Eletrocardiograma (ECG);
  • Anti-HIV com consentimento da paciente;
  • Transaminase Glutâmica Oxalacética (TGO), Transaminase Glutâmica Pirúvica (TGP), fosfatase alcalina (opcional).

Outros exames de avaliação

  • Marcadores virais de hepatites B e C (opcional).
    A extensão da doença é primordial para planejamento do tratamento. Por isso, os exames de imagem são preconizados para definição mais acurada da avaliação da extensão da doença ou estadiamento, principalmente nos estádios mais avançados.
    Quando, na avaliação inicial, suspeita-se de doença avançada, possibilidade de hidronefrose, comprometimento linfonodal paraaórtico ou se há dúvida quanto ao comprometimento parametrial, pode-se complementar a propedêutica de acordo com cada caso.
  • Ultrassonografia abdominopélvica: não permite avaliação linfonodal, portanto, está indicada somente nos estádios iniciais até IB1 ou quando não houver possibilidade de outro exame de imagem.
  • Tomografia computadorizada abdominopélvica: é um exame opcional que permite avaliação hepática, do trato urinário, de estruturas ósseas, bem como avaliação de linfadenomegalias. Se disponível, deve ser solicitada a partir do estádio IB2.
  • Ressonância magnética: é capaz de determinar o tamanho tumoral, status linfonodal, extensão parametrial e profundidade de invasão estromal. É um exame opcional, nem sempre disponível nas unidades de saúde.
  • Uretrocistoscopia e retossigmoidoscopia: são exames opcionais, estando indicados quando houver suspeita de envolvimento, respectivamente, da bexiga ou do reto.

O tratamento deve ser avaliado e orientado por um médico. Entre os tratamentos mais comuns para o câncer do colo do útero estão a cirurgia e a radioterapia. O tipo de tratamento dependerá do estadiamento da doença, tamanho do tumor e fatores pessoas, como a idade e desejo de ter filhos.

Parte das mulheres sexualmente ativas, que entra em contato com o HPV, pode debelar a infecção espontaneamente ou com tratamento médico pertinente. Caso isso não ocorra, o tratamento tem por objetivo a retirada ou destruição das lesões precursoras pré-malignas.

No entanto, uma vez confirmada a presença de tumores malignos, o procedimento deve levar em conta o estágio da doença, assim como as condições físicas da paciente, sua idade e o desejo de ter, ou não, filhos no futuro.

A cirurgia só deve ser indicada, quando o tumor (carcinoma in situ) está confinado no colo do útero. De acordo com a extensão e profundidade das lesões, ela pode ser mais conservadora ou promover a retirada total do útero (histerectomia).

A radioterapia externa ou interna (braquiterapia) tem-se mostrado um recurso terapêutico eficaz para destruir as células cancerosas e reduzir o tamanho dos tumores. Apesar de a quimioterapia não apresentar os mesmos efeitos benéficos, pode ser indicada na ocorrência de tumores mais agressivos e nos estádios avançados da doença.

A vacinação, em conjunto com o exame preventivo (papanicolau), se complementam como ações de prevenção deste câncer. Mesmo as mulheres vacinadas, quando alcançarem a idade preconizada (a partir dos 25 anos), deverão fazer o exame preventivo periodicamente, pois a vacina não protege contra todos os subtipos oncogênicos do HPV.

Nunca é demais ressaltar, que o uso da camisinha em todas as relações sexuais é um cuidado indispensável contra a infecção não só pelo HPV, mas também por outros agentes de doenças sexualmente transmissíveis.

Conviver com um câncer não é nada fácil, na verdade é uma tarefa extremamente árdua que exige muito do corpo e da mente do paciente. Os tratamentos contra o câncer do colo de útero podem remover a lesão ou destruir as células cancerígenas, mas até seu fim e cura completa há um longo caminho a ser percorrido.

Mesmo após o termino do tratamento, é importante que o acompanhamento pelos profissionais continue, para observar o comportamento do corpo em relação a uma recidiva do câncer e reforçar a necessidade de bons pensamentos para o avanço da saúde da paciente. Além disso, para superar a doença, o apoio dos familiares é essencial.

Fontes: Drauziovarella, Minhavida, Gineco, INCA (1, 2, 3, 4), Oncoguia, FundaçãoAntonioDino.