A hanseníase, popularmente conhecida como lepra, é uma doença infecciosa, causada pela bactéria Mycobacterium Leprae, ou bacilo de Hansen, que lesiona os nervos periféricos e diminui a sensibilidade da pele. Geralmente, o distúrbio ocasiona manchas esbranquiçadas em áreas como mãos, pés e olhos, mas também podem afetar o rosto, as orelhas, glúteos, braços, perna e costas.
Os tipos de hanseníase são classificados de acordo com a resposta do nosso organismo à presença da bactéria. A doença se apresenta em quatro formas clínicas:
Hanseníase indeterminada
Fase inicial da doença que espontaneamente se evolui para cura, por conta do sistema imunológico do indivíduo ser capaz de combater a bactéria. Nota-se apenas uma pequena mancha na pele, hipopigmentada ou avermelhada com distúrbio de sensibilidade e bordas levemente elevadas. Representa 90% dos casos, normalmente em crianças.
Quando a hanseníase começa nesse estágio, somente 25% dos casos evoluem para outras formas mais graves, o que pode ocorrer entre 3 a 5 anos.
Hanseníase tuberculóide ou paucibacilar
A hanseníase paucibacilar é a forma mais benigna e localizada, que ataca os indivíduos com alta resistência ao bacilo de Hansen. O sistema imunológico não consegue destruí-lo, porém também não permite que se espalhe pelo corpo. Esse tipo é caracterizado pela presença de poucos bacilos, que podem não ser detectados quando são retiradas amostras das lesões. A doença não é contagiosa nesse estágio.
Como na forma indeterminada, as lesões que se manifestam na hanseníase paucibacilar são hipopigmentadas ou avermelhadas. As manchas são poucas, ou únicas, de limites bem definidos, pouco elevados e dormentes, que podem causar dor e atrofiar os músculos próximos, geralmente em quantidades mínimas.
Hanseníase borderline ou dimorfa
Forma intermediária da doença que resulta de uma imunidade também intermediária. Há mais manchas na pele que podem atingir grandes áreas da pele, envolvendo partes da pele sadia. Acomete os nervos próximos as lesões, podendo ocorrer neurites agudas de grave prognóstico.
Hanseníase multibacilar, lepromatosa ou virchowiana
Manifestação grave e contagiosa da doença, caracterizada pela presença de 6 ou mais lesões de pele com muitos bacilos. A hanseníase multibacilar se apresenta quando o paciente possui o sistema imune incapaz de controlar a proliferação da bactéria, por isso há amostras positivas para o bacilo de Hansen.
Formam-se várias lesões avermelhadas, elevadas, e, em casos graves, há o aparecimento de nódulos que podem ser deformantes. Os inchaços são generalizados e há erupções cutâneas, dormência e fraqueza muscular. Geralmente, atingem o lobo das orelhas e o cotovelo, mas o nariz, rins e órgãos reprodutivos masculinos também podem ser afetados.
A bactéria Mycobacterium Leprae, ou bacilo de Hansen, penetra no organismo por meio das vias respiratórias ou secreções como a saliva até se instalar nos nervos periféricos e na pele. O tempo de incubação é lento, levando da contaminação até o surgimento dos sintomas, em média, de dois a cinco anos.
Dentre as pessoas que abrigam o bacilo, há situações que o sistema autoimune apresenta resistência, consistindo nos casos com número baixo de bactérias, incapaz até mesmo de transmitir para outros. E, em certos casos, pode chegar a se curar espontaneamente (paucibacilar).
Entretanto, um número menor de indivíduos apresenta reduzida, ou inexistente, imunidade à bactéria, que se multiplica em seu organismo e pode infectar outras pessoas (multibacilar).
Acredita-se, também, que possa haver transmissão através das feridas na pele. Porém, deve-se lembrar que se o portador da doença estiver realizando o tratamento quimioterápico não há risco de transmissão.
Embora seja raro, existem espécies de animais que carregam a bactéria e podem transmiti-las a humanos, são elas: tatu, chimpanzé africano, macaco mangabey, macaco cinomolgo.
A doença se manifesta através de sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos.
Nos sintomas dermatológicos, o distúrbio se caracteriza pelo aparecimento de manchas arredondadas de cor parda, branca ou avermelhada, às vezes pouco visíveis, que se espalham pelo corpo. As lesões costumam apresentar alteração na sensibilidade, fazendo com que o indivíduo deixe de sentir diferenças de temperatura, pressão e dor no local da ferida. Essa característica que difere a hanseníase da maioria das doenças na pele.
Os sintomas neurológicos se manifestam através de lesões nos nervos periféricos. Essas lesões são decorrentes de um processo inflamatório chamado neurite, causado tanto pela ação da bactéria quanto pela reação imunológica do organismo para expulsão do bacilo. Em alguns casos, pode ser causada por ambos.
Características mais comuns:
- Manchas na pele de cor parda, esbranquiçadas ou eritematosas, às vezes pouco visíveis e com limites imprecisos;
- Alteração da temperatura no local afetado pelas manchas;
- Comprometimento dos nervos periféricos;
- Dormência em algumas regiões do corpo causada pelo comprometimento da enervação. A perda da sensibilidade local pode levar a feridas e à perda dos dedos ou de outras partes do organismo;
- Aparecimento de caroços ou inchaço nas partes mais frias do corpo, como orelhas, mãos e cotovelos;
- Alteração da musculatura esquelética principalmente a das mãos, que resulta nas chamadas “mãos de garra”;
- Infiltrações na face que caracterizam a face leonina característica da forma Virchowiana da doença.
O médico dermatologista deve ser consultado para realizar o diagnóstico eficiente a partir da observação das manchas, análise dos sintomas do paciente e realização de testes específicos. Os exames requisitados podem ser em consultório, para testar a sensibilidade das feridas, ou laboratoriais.
Exames de sensibilidade
- Temperatura: o exame consiste em testar a sensibilidade de temperatura mergulhando a região atingida em dois tubos, um com água fria e outro com água quente.
- Dor: para testar a sensibilidade com a dor é pressionado a ponta de uma caneta esferográfica na região atingida pela doença.
- Tato: consiste no uso de uma fina mecha de algodão para testar a sensibilidade tátil.
Exame laboratorial
O dermatologista pode requisitar uma pequena raspagem nas feridas e enviar para análise em laboratórios para confirmar a presença do bacilo de Hansen. A ausência da bactéria descarta a forma multibacilar, mas não a forma paucibacilar.
A hanseníase tem cura. O tratamento é feito nas unidades de saúde (SUS) e é gratuito. A cura é mais rápida e fácil quando mais precoce for o diagnóstico.
O tratamento é via oral, constituído pela associação de dois ou três medicamentos (antibióticos), denominado poliquimioterapia (PQT), ela interrompe a evolução da doença até a eliminação completa da bactéria, rompe a cadeia epidemiológica do bacilo e, com isso, prevenindo as incapacidades e deformidades que a doença causa. Após iniciar o uso dos medicamentos, a doença deixa de ser transmissível, em cerca de 4 dias.
A forma mais indicada de prevenir a doença é mantendo o sistema eficiente, para que o organismo consiga combater a bactéria caso haja contato com a mesma. Por isso, é indicado que os indivíduos assumam novos hábitos cotidianos, com boa alimentação, prática de atividades físicas e boa higiene.
Outra recomendação que é feita é fazer o exame dermato-neurológico e aplicação da vacina BCG em todas as pessoas que compartilham o mesmo domicílio com o portador da doença.